01/02/2021

Como a IP aplica o conceito de margem de segurança?

Gostamos da definição de margem de segurança de Ben Graham, que escreveu que quanto maior é o desconto no preço da ação em relação ao valor intrínseco, menor é o risco do investidor. Mas acreditamos que Robert Vinall foi bem feliz em aprimorar a proposição de Graham.

Na carta semestral da RV Capital, uma das assets mais bem-sucedidas da Europa, Vinall discorda especificamente desse trecho da tese de Graham: “A função da margem de segurança é, em essência, tornar desnecessária uma estimativa precisa do futuro [no valuation].”

O problema de colocar as coisas assim é que muitos investidores chegam à conclusão que não vale a pena passar tempo pensando sobre o futuro. É como se o conselho de Graham fosse: “Somente pague um preço baixo o suficiente, e seu investimento vai cuidar dele mesmo.”

O resultado é que muitos value investors acabam ancorados no passado e no presente ao avaliar uma empresa e dão muito valor a coisas como ativos da companhia, lucro histórico, diferenciais competitivos já existentes, etc.

“Discordo totalmente que o futuro seja de importância secundária [para o  valuation]. (…) Se o valor intrínseco de uma companhia é a soma dos fluxos de caixa futuros, como você pode saber se tem ou não margem de segurança sem ter uma visão do futuro?”, questiona Vinall.

Muitos investidores até admitem a importância de antecipar o futuro. Devido às incertezas inerentes a previsões, no entanto, a maioria acaba fazendo previsões bastante conservadoras porque entende que assim continuaria a haver uma grande margem de segurança.

Para Vinall, no entanto, a previsão tem que ser acurada, e não conservadora. Se um banco subestima o risco de calote de uma empresa, ele perde dinheiro. Mas se ele superestima o risco de calote, também perde dinheiro porque se recusou a liberar um empréstimo lucrativo.

“Quando olho para as melhores oportunidades de investimento que perdi, percebo que, quando pensei que estava sendo conservador, na verdade estava errado.” Um bom exemplo é ao analisar negócios em fase inicial que estão sendo criados por empresas já consolidadas.

Muitos investidores costumam atribuir zero de valor a esse tipo de opcionalidade. Mas quando uma empresa tem um bom histórico de entregar inovações, enxergar um novo business como uma “opção de graça” não é ser conservador. É avaliar mal o valor do negócio.

“Um investidor que não atribui nenhum valor a opcionalidades (…) cede vantagens a seus competidores e ainda dificulta seu próprio trabalho de seleção porque vai ter de pescar numa piscina onde não estão as melhores oportunidades.”

Vinall termina propondo um aperfeiçoamento à colocação de Graham:

“A função da margem de segurança é, em essência, não tornar desnecessária uma estimativa precisa do futuro, mas minimizar os danos de uma estimativa imprecisa.”

 

Recomendamos a leitura da mais recente carta da RV Capital, uma asset com sede na Suíça cujo principal fundo acumula retorno de 779% desde 2008, ou quase 5 vezes mais que o DAX, o principal índice de ações alemão.

A carta está no site da gestora: https://www.rvcapital.ch/post/rv-capital-s-2020-letter-to-co-investors-in-the-business-owner-fund